O monstro somos nós
- O Blog do Clube

- 4 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2022
Hoje vou falar sobre um livro mais do que clássico: Frankenstein, de Mary Shelley.
O livro começa sendo narrado pelo capitão Robert Walton, que por meio de cartas narra o salvamento de um homem, Victor Frankenstein, no Polo Norte. Após o salvamento, Victor narra o que ocorreu com ele.
Nosso personagem principal, estudante de medicina, tem como objetivo realizar o sonho que faz seus olhos brilharem: reviver um corpo há muito tempo falecido. Depois de se formar em medicina, em uma fatídica noite de tempestade, seu projeto ganha vida, literalmente. Um corpo feito de diversas outras partes humanas, nasce. Mas não tendo previsto a magnitude de sua criação, assustado e enojado, foge, deixando a criatura para trás.
Sem entender seu proposito no mundo, a Criatura se vê perdida e obrigada a conhecer o mundo por si só. E aí vemos a realidade através de seus olhos. Ao observar uma família, começa a entender como os humanos vivem, aprende a reconhecer suas vozes, seus nomes e desenvolve sentimentos. E nesse momento, vendo as coisas de seu ponto de vista, senti uma grandiosa empatia pela pobre criatura, que se mostra não sendo o verdadeiro monstro, afinal. Ele almeja o que todos nós almejamos ou almejaremos, em algum ponto de nossas vidas, amar, ser amado, sentir o carinho dos que nos cercam e fazer parte de algo maior.
Ao decorrer do livro vemos o sofrimento da criação, tendo sido rejeitado pelo criador e por todos os demais "humanos" que encontra.
O alvoroço tomou conta do vilarejo: alguns fugiram, outros me atacaram, até que, bastante escoriado pelas pedras e pelos diversos tipos de armas que usavam contra mim, fugi para o descampado, onde, cheio de medo, refugiei-me numa choupana baixa, quase nua, a qual parecia bem miserável comparada aos palácios que eu vira no vilarejo […] (p. 193).
Todo esse infortúnio só faz crescer o sentimento de vingança e ódio contra Victor. Além de ter sido abandonado por ele, a criatura também vê sua esperança de futuro ser arruinada quando Frankenstein se nega a criar uma companheira para ele. Sem nada a perder e completamente sozinho, se volta contra o criador e decide fazê-lo sofrer.
Nem um só homem, entre a miríade deles que havia, teria piedade de mim ou viria em meu auxílio; deveria eu nutrir simpatia por meus inimigos? Não: daquele momento em diante, declarei guerra contra a espécie e, acima de tudo, contra aquele que me criara e abandonara nesta insuportável miséria (p. 229).
Durante as passagens narradas pelo pobre ser, me vi refletindo sobre a sociedade, sobre o que somos e, pelo que parece, ainda seremos por um bom tempo: "Seres humanos" sem compaixão, sem empatia, sem vontade de compreender o que se mostra diferente de nós. Evoluímos tanto, mas por dentro ainda somos os verdadeiros monstros.





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